Celular não é inimigo! As metodologias ativas que o digam

Celular não é inimigo! As metodologias ativas que o digam

Novos métodos ao redor do mundo tornam alunos protagonistas nas salas de aula, por meio da transformação dos espaços físicos e da forma de transmitir conteúdo

Imagine uma cena em que o aluno entra na sala de aula tradicional e senta em uma das cadeiras enfileiradas. Enquanto o professor está de pé, no meio do seu discurso de quarenta minutos, com slides de apoio, o estudante puxa o celular do bolso e começa a navegar pela internet. O que pode parecer um motivo para “bronca” é, na verdade, um respaldo para a inserção das metodologias ativas nas salas de aula.

 

Mas o que as metodologias ativas fazem?

As metodologias ativas de ensino proporcionam uma abordagem compartilhada, com o aluno no centro do processo de aprendizagem. Nesse novo contexto, em vez de só ouvir o que o professor fala, ele é provocado a, junto com os outros alunos, fazer reflexões e buscar respostas diante do mundo de conteúdos a que tem acesso dentro e fora da sala de aula.

Isso também interfere na infraestrutura dos espaços de ensino. Salas de aula são reestruturadas, com cadeiras unidas para grupos e recursos tecnológicos incorporados de forma encurtar distâncias e estimular a autonomia na busca pelo conhecimento, na interação com outro e com o mundo. Nesse novo espaço, professores se movimentam para descobrir as competências de cada um, em um processo de orientação, mediando a busca por referências consistentes e possibilidades para caminhos para o conhecimento dos estudantes.

 

A conectividade é impulsionadora dessa nova realidade

Se os conteúdos são acessíveis a um clique, qual o sentido de apenas transmiti-los?  

E mais: se o aluno precisa desenvolver senso crítico, gestão de pessoas e capacidade para solucionar problemas complexos — características mais exigidas pelo mercado até 2020 — por que não sair de uma realidade passiva (apenas ouvir) para um contexto ativo (colaboração, interação, autonomia)?

 

“Taxonomia de Bloom” reforça mudanças:

Uma força-tarefa da Associação Norte Americana de Psicologia, em 1948, já explicava bem a ideia dos novos métodos de ensino. Comandada por Benjamin Bloom, o grupo de estudiosos buscava criar uma classificação para os objetivos dos processos educacionais.

Foi gerada, assim, a “Taxonomia de Bloom do Domínio Cognitivo”, que apontou seis níveis para uma pessoa adquirir uma habilidade: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. O ponto crucial é que, para ter uma capacidade do próximo nível, o aluno deve ter dominado a do nível anterior, chegando a estudantes capazes de resolver problemas com raciocínios em todos os níveis.

Quando um aluno se depara apenas com os métodos do ensino tradicional, voltados em totalidade para o repasse das temáticas, ele fica limitado somente aos dois primeiros níveis: conhecimento e compreensão. Mas a realidade requer que ele atinja os outros graus do conhecimento, como a aplicação da informação em problemas concretos e a análise para estabelecer relações entre o que aprendeu.

Confira as principais metodologias ativas:

·       Aprendizagem baseada em projetos (Project Based Learning)

·       Aprendizagem baseada em equipes (Team Based Learning)

·       Aprendizagem baseada em problemas (Problem Based Learning)

 

Quais universidades adotaram metodologias ativas?

Na Escola da Ponte de Portugal não existem salas de aula, apenas espaços de trabalho com fontes de conhecimento, como livros, dicionários e materiais multimídia. Os estudantes não são organizados por séries ou ciclos, mas por interesses comuns.

Já os alunos da Universidade 42, no Vale do Silício, Califórnia, escolhem os projetos que vão fazer, como criar um website ou um jogo de computador. Em cadeiras com computadores, são levados a chegar a soluções com ajuda um dos outros, sem a orientação de professores.

Também no Vale do Silício, a Singularity University está focada nas tecnologias com crescimento acelerado. Com acesso a instrumentos de robótica, biotecnologia e nanotecnologia, os alunos devem projetar soluções que impactem a humanidade.

No Brasil, a Celso Lisboa, que adota o ecossistema de aprendizagem da Liga, tem por objetivo o desenvolvimento de habilidades, competências e autonomia do estudante em um conceito de aprendizagem alinhado aos problemas da sociedade. A estrutura das carteiras é feita para grupos, que têm acesso constante à internet. Há mais de um educador por turma e os quadros brancos saíram das paredes e foram dispostos nas mesas.

Cada um dos exemplos acima aplica as metodologias ativas com uma particularidade. Em comum, todas têm como resultado estudantes que compreendem o valor do conhecimento e se engajam no processo, assumindo as mudanças do mundo e a acumulação dos saberes como meio para inovar em busca de soluções para novos problemas.

 

A inovação tecnológica expande nossos limites

As novas tecnologias fortalecem a inclusão. É o caso da estudante de 10 anos, Anafisa Tabassum, que estuda em uma escola no município de Lajeado, no Rio Grande do Sul. Ela imigrou, junto com a família, de Bangladesh e teve no celular praticamente um professor — ou seria facilitador? — particular, pois o aparelho era utilizado frequentemente para traduzir as palavras em português que Anafisa copiava.

Demonizar aparelhos como o celular, ou mesmo o tablet, acaba sendo um ato covarde e previsível diante de, por um lado, o desconhecido; por outro, a tecnologia já incorporada ao dia a dia das pessoas. Não chegamos até aqui revolucionando o modo de vida dos nossos avôs, pais e, futuramente, nossos filhos e netos revolucionando os nossos, fechando os olhos para a inovação.

A cautela sempre será uma característica importante para nossas aspirações. Mas, deixar ela atravessar nosso otimismo e ímpeto é entrar em um ciclo de ceticismo sem fim, no qual não nos valeremos ao máximo do ciclo — este sim infinito — de que cada novo conhecimento inspira novas dúvidas.

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